quarta-feira, julho 15, 2009


A identificação do professor.

http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT08-2691--Int.pdf

Identificação com Professor
É interessante observar que nessa classe se situa a maioria dos sujeitos que decidiram ser professores pela identificação com outros professores. Cada professor, em sua singularidade, carrega características da totalidade de sua categoria, que só se apresenta como um todo por estar presente em cada um.
Assim, estes sujeitos tomaram como referência, na decisão em ser professor, a postura, a maneira de ensinar, ou seja, a prática pedagógica dos professores que passaram por suas vidas. Entretanto, há igualmente o lado existencial, quando ser professor representa também o sentimento de divino, de aptidão, ofício de sacerdócio e magia, em suma, uma abordagem basicamente sentimental.
Estes dois eixos não fazem associação com a dimensão política do processo educacional, ao contrário, delineiam formas de pensar e explicar a decisão em ser professor realçando questões afetivas.
Os elementos das classes 1, 2 e 3 parecem manter uma forte relação entre si. A decisão em ser professor, por parte dos sujeitos dessas classes, não se destacou como um meio para assegurar a sobrevivência material, ao contrário, destaca-se como uma fonte de prazer e de realização pessoal.
Necessidade Financeira
Esta classe é constituída pelo discurso que enfatiza a opção profissional motivada pela situação material, ou seja, meios econômicos escassos para se preparar para a carreira, facilidade de acesso a essa preparação. Verifica-se ainda, nesta classe, que a concepção de magistério aparece como profissão de “rendimentos certos”.
São muitas as lembranças que os sujeitos têm dos aspectos que os levaram a optar por ser professor: a família, a vida de estudante muitas vezes entrelaçado, ou até mesmo suplantado por dificuldades, principalmente de ordem financeira.
Desse modo, a opção explicitada nesta classe ficou constituída das alternativas abaixo, cada uma indicando o motivo da escolha em ser professor:
- impossibilidade de fazer outro curso; segurança, pois, assim que terminam o curso, conseguem assumir suas despesas financeiras; inserção no mundo do trabalho: é uma profissão em que, apesar da falta de emprego consegue logo um emprego; possibilidade de sobrevivência: a representação que as pessoas têm da profissão é a de que não enriquece,
mas o professor tem garantida a sobrevivência, diferente das outras profissões das quais o mercado de trabalho está saturado;
- emprego certo devido à grande lacuna que existe principalmente nas redes públicas de professores, daí porque sempre está se abrindo concurso público para preenchimento das vagas ou existem os contratos provisórios através dos quais, muitas vezes como estagiário, você tem um emprego garantido.
Ressalta-se que, nas respostas a esta questão, tendo sido uma escolha ou força das circunstâncias econômicas e sociais o fator responsável pelo encaminhamento dos professores na carreira de professor, este fato diluiu-se diante de outros aspectos pessoais, familiares e profissionais das vidas docentes que, como um todo, vão influenciando, modificando, reestruturando formas de pensar e de agir.
Os dados obtidos com relação à percepção e expectativa do professor acerca de si mesmo agrupam-se em seis classes de respostas. Em quatro classes as respostas relacionam-se com o papel social do professor e em duas (classes) as respostas voltaram-se para o papel no contexto da sala de aula. Nessa perspectiva, busca-se a concepção de mundo e ação, desenvolvimento e aprendizagem, trabalho e educação, necessidade, e possibilidades no contexto social e individual em que o professor atua no seu espaço de trabalho, pois é através deste que o professor se mostra responsável e comprometido perante a sociedade.
Segundo os resultados obtidos, podem-se fazer algumas observações sobre as classes e o papel do professor.



Profissional / Técnico
Esta classe enfatiza a percepção do professor como alguém capaz de enfrentar os desafios que surgem, e como um dos agentes de mudança da escola e da prática pedagógica visando torná-la mais adequada ao contexto escolar e ao processo ensino aprendizagem.
Percebem-se, nesta classe, a clareza do seu papel de professor e a autoconfiança no seu preparo para exercer a profissão. A auto - imagem profissional é bem positiva.
Nas respostas dos sujeitos surge a concepção de que, na relação com os alunos, no seu cotidiano, o professor deve estabelecer relações baseadas no respeito, na compreensão, na amizade, na sinceridade e no compromisso pedagógico.
Percebe-se que prazer, mudança, pesquisa, referência para o aluno são “características” inerentes ao papel do professor.

Papel Político do Professor
Verifica-se que surge um discurso organizado em torno do papel político do professor. Esse papel deve considerar o compromisso com a transformação social e, conseqüentemente, o desenvolvimento de práticas pedagógicas que valorizem a responsabilidade, a honestidade e o respeito ao ser humano e ao meio ambiente.
Esta classe caracteriza-se por sentimentos em relação ao papel político do professor de mudança, preocupação, angústia e pela evidência da necessidade de o profissional buscar constantemente formação e ao mesmo tempo ser um formador do cidadão.

Importância x Desvalorização
Esta classe foi marcada pela contradição entre a importância e a desvalorização. O olhar que se apresenta é um olhar positivo e concebe-se como um papel necessário no contexto social, como também se nota que, para conservar esta importância, é preciso desenvolver-se, ou seja, estar atualizado. Entretanto, percebem-se também uma desmotivação e uma falta de esperança de que dias melhores virão por estarem vivendo um momento de transição em relação ao seu status social.

Desejo de Aprofundamento x Sobrecarga de Trabalho
Observa-se que há uma necessidade de aprofundar os conhecimentos para poder desenvolver seu papel social como professor, uma vez que o contexto social cobra desse profissional competência técnica, política e teórica. Eles são conscientes disso, entretanto não deixam de trazer à tona que não é fácil conseguir estar se aprimorando, devido ao excesso de trabalho, com carga horária que absorve os três turnos (manhã, tarde e noite), dificultando um horário para se aprofundar.
Portanto, nesse contexto, o professor só terá condições de contribuir para as mudanças sociais se for capaz de integrar na sua formação e na sua prática os determinantes sociopolíticos e técnicos que caracterizam a sua atividade profissional.
Apesar de os sujeitos expressarem sentimentos de ansiedade, angústia e inquietação, mostram-se comprometidos com o seu papel social.
É interessante notar que nas classes 1,3,4 e 5 situam-se os discursos que enfatizam o papel social do professor. Os papéis que eles desempenham e as responsabilidades, que lhes são próprias, requerem um processo de aprendizagem permanente ao longo da vida. E a questão da identidade, ou das identidades, está marcada pela história de cada grupo, pelas instituições existentes, pelo poder e pelas crenças.
As duas classes que dizem respeito ao papel do professor na sala de aula destacam-se em relação à falta e à compensação.

Sentimento de Falta e Relação com o Aluno

Percebe-se nas respostas ao questionário certa insegurança em relação ao contexto da sala de aula; a auto-imagem apresenta-se desgastada, inferindo-se, nesse sentido, que busca compensar seu papel de professor na figura mãe, amiga, irmã, fugindo do seu verdadeiro papel na sala de aula como professor.
Este tipo de relacionamento fragiliza o papel e a função do professor, uma vez que tudo isso permite afirmar que os sujeitos desta classe experimentam sentimentos de impotência e vivem várias dimensões da identidade pessoal. Entretanto, é preciso compreender melhor os elementos que podem ter relação causal com esta vivência.

Avaliação de Si Mesmo
Os professores desta classe, em relação a como se vêem como professores, fizeram uma auto-avaliação dizendo que são: comprometidos; razoáveis, mas procuram se aperfeiçoar; têm falhas, mas procuram sempre corrigi-las; abertos ao diálogo, procurando inovar; responsáveis, respeitadores, transparentes.
Percebe-se que, quando apresentam algum defeito, já colocam a solução que é tomada para resolver a situação. Os professores precisam compreender que o seu olhar avaliativo está carregado de suas experiências de vida e, por esse motivo, o seu juízo de valor é perigosamente comprometido. Ao avaliar, o professor deixa claro qual é a sua concepção em relação ao conhecimento.
A expectativa dos professores em relação a como eles se vê como professor tem a ver com alguém preparado, comprometido, que é importante para o desenvolvimento social e que precisa estar se atualizando, mas que tem uma sobrecarga de trabalho. Esta percepção aparece numa visão macro do seu papel social.
Os conteúdos das classes 2 e 6 estão voltados mais para uma visão micro do papel do professor na sala de aula. Eles se vêem dentro do processo ensino aprendizagem e busca uma relação de mãe, irmã, amiga, fugindo da relação professor - aluno que não deixa de ser amiga, mas a relação é outra.
Ou seja, a relação do saber fazer, do perceber o que pode fazer, distinguindo limite.
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