quarta-feira, junho 22, 2011


Cultura para crianças.




Entrevista com Evandro Salles curador da Exposição “Arte para Crianças”
Artes visuais - Artes plásticas
Escrito por Adriana Napoli

Portal Cultura Infância
: Como surgiu a idéia de criar a exposição “Arte para Crianças”?
Evandro Salles: Essa idéia surgiu há algum tempo e agora se tornou viável. Surgiu de duas reflexões paralelas: a primeira referente aos significados e funções da arte na sociedade atual e a segunda em torno da evidente crise vivida pelos chamados serviços de arte-educação oferecidos pelas instituições culturais e museus, que buscam estabelecer, na maioria dos casos, a chamada “mediação” entre a obra de arte e seu público, coisa que a nosso ver é estruturalmente equivocada. A arte não necessitada de mediação para ser plenamente usufruída por quem quer que seja. A mediação serve para filtrar e deter o poder transformador da arte no pensamento e na cultura. Serve para enquadrar o que está fora do quadro.

PCI: Você já trabalhava com crianças antes de conceber a exposição?
Evandro Salles: Não trabalhava com crianças antes dessa exposição.

PCI: Como você se interessou em trabalhar com a arte voltada para o público infantil?
Evandro Salles: Meu interesse nasceu da simples e corriqueira observação em torno da capacidade extraordinária das crianças em viver o “poético” de forma intensa e apaixonada. O poético é o que é essencial na arte. Posso deduzir daí que as crianças têm uma capacidade plena de vivenciar a arte contemporânea, dita complexa e inacessível para os não iniciados, bem maior que a maioria dos adultos. Viver a experiência da arte de forma marcante, profunda, intensa, apaixonada. Isso pode ser visto na exposição. É claro e visível a intensidade e alegria com que as crianças se “apropriam” das obras. A arte é para ser vivida dessa forma e não através de manuais e livros de história da arte. A história da arte é boa para os historiadores, que se sentem donos do desenvolvimento da arte, e para o mercado de arte que manipula e valoriza as obras a partir de leituras institucionalizadas.

PCI: Qual a diferença de desenvolver uma exposição voltada para crianças de uma focada no público adulto?
Evandro Salles: No caso da “Arte Para Crianças” existiram preocupações específicas relativas à curadoria, à arquitetura da exposição e ao caráter anti-didático que queríamos para a mostra, entre outras. Mas de um ponto de vista absoluto, não existem diferenças. A boa arte não compartimenta sua leitura, ela se abre de forma generosa para qualquer pessoa que se aproxime com o coração aberto.

PCI: Como foi feita a seleção dos artistas que integram a exposição?
Evandro Salles: Priorizamos em primeiro lugar a qualidade de suas obras. Queríamos oferecer um panorama amplo e plural da arte e a intersecção de linguagens típicas dos procedimentos contemporâneos.

PCI: As obras que compõem a exposição são reunidas sob uma temática, ou cada obra é distinta da outra?
Evandro Salles: A exposição não propõe uma correlação entre as diferentes obras. Não propõe um percurso, um começo e um final. Não há expectativa de se chegar a algum lugar específico em termos de conclusão e reflexão. As pessoas são respeitadas no seu interesse, na sua viajem. A relação com os objetos de arte é compreendida como inteiramente pessoal e intransferível. Cada pessoa é que deve estabelecer seu interesse e percurso. Assim, o conjunto de obras tenta oferecer um conjunto de possibilidades poéticas tão complexo como é o panorama da arte atual.

PCI: Nem todas as obras agregadas na exposição, foram originalmente concebidas para crianças. Como você percebeu que elas tinham potencial para dialogar com o público infantil?
Evandro Salles: A princípio qualquer criança possui um interesse amplo sobre todas as coisas. Sobre a natureza humana, sobre a vida. A arte fala sobre essas coisas e não sobre outras, portanto é lógico que a boa arte seja apreciada e provoque o interesse de qualquer criança ou adulto.

PCI: A exposição está itinerando desde 2007 por diferentes estados brasileiros. São feitas muitas reestruturações a cada edição?
Evandro Salles: A exposição é em grande parte refeita, reconstruída. Obras como mobiliário são tão usados, tocados, acariciados, que acabam em grande parte destruídos. Algumas obras naturalmente são preservadas por serem insubstituíveis.

PCI: De acordo com as características do local que sediará o projeto e do público que visitará a obra, a exposição passa por mudanças?
Evandro Salles: Em cada uma das cidades onde ela passou (Vitória, Rio de Janeiro, Belém, São Luiz, Brasília e São Paulo) se buscou incorporar um artista da própria cidade.
A mostra sofre adaptações grandes em função do espaço que ocupa. Em São Paulo mudamos todo o desenvolvimento do projeto em termos de sua arquitetura para que o espaço do SESC Pompéia fosse respeitado em sua beleza e particularidade. Decidimos não compartimentalizar as obras, separando o mais possível uma da outra como nas outras edições. Para nós isso oferecia um risco de aproximar obras que propõem uma introspecção de outras que propõem uma extroversão. Mas o espaço se impôs a essa decisão.

PCI: Quando visitei a exposição, chamou minha atenção a escolha das cores. Normalmente quando vejo obras de artes visuais direcionadas ao público infantil percebo que são multicoloridas, com forte presença de cores quentes e vibrantes, e muito me intrigou que a exposição “Arte para Crianças”, fuja desse óbvio. Como foi pensada essa questão das cores?
Evandro Salles: Os preconceitos em relação às crianças são de tal ordem, que questões como a cor devem seguir sempre padrões estabelecidos. Simplesmente essa questão não se colocou na elaboração do projeto.

PCI: A maioria das obras expostas permite a interação com o público. O que é ótimo quando se lida com crianças. Já algumas têm barreiras de segurança que impedem a aproximação. Porque essas obras são cercadas? Como é esperado que as crianças apreciem as obras neste caso?
Evandro Salles: Em primeiro lugar nos cabe conduzir o público de forma a que ele saiba como se colocar diante de obras de arte. Existem obras abertas a uma participação física e outras onde a relação deve ser reflexiva, contemplativa. Essa “postura” do corpo e da mente diante das obras de arte é uma das poucas coisas que podemos falar com relativa certeza sobre elas. É necessário um aprendizado básico sobre como se colocar sobre isso. As crianças precisam e pedem tal informação. Isso é cultura essencial.
O SESC Pompéia necessitou de cuidados especiais diante da enormidade de seu público e da opção de não constranger o público com um sistema de segurança repressivo. Para que determinadas obras não fossem inteiramente destruídas na primeira semana da mostra ou seriamente danificadas, nos dias de maior público foram colocadas proteções como, por exemplo, o vidro na estante das pequenas esculturas do Amilcar. Esse vidro não existiu em nenhuma das edições anteriores, mas foi necessário em São Paulo diante das características de segurança do local.

PCI: O que é feito com as atividades artísticas que as crianças produzem durante a exposição, como é o caso dos desejos pendurados nas árvores de Yoko Ono e das esculturas de papel realizadas com base na obra de Amilcar de Castro?
Evandro Salles: No caso dos desejos são enviados para a artista que os deposita em um monumento à paz criado por ela na Islândia. No caso dos recortes do Amilcar podem ser levados por seu criador ou reciclados.

PCI: Há alguma estimativa de quantas crianças já visitaram a exposição desde a sua primeira edição em 2007?
Evandro Salles: Em torno de 400.000.

PCI: O que se espera que as crianças tenham fruído após a visita?
Evandro Salles: Se as crianças incorporarem em sua história pessoal o registro da percepção em torno da natureza poética da arte, da potência vibrante e transformadora do poético proporcionada pela experiência da arte, nossa expectativa estará contemplada. Nesse sentido, temos recebido respostas extremamente promissoras. Dentro de alguns anos, talvez recolheremos frutos maduros de toda a experiência.

PCI: Atualmente como você vê a produção brasileira de artes visuais voltada para a infância? Há grande atividade?
Evandro Salles: Acho que é um campo aberto para possibilidades inovadoras e experimentais como é o caso da
mostra “Arte Para Crianças”.

Serviço:
EXPOSIÇÃO “ARTE PARA CRIANÇAS”
Visitação: 15 de maio a 2 de agosto de 2009. De terça a sábado, das 10h às 21h, e domingos e feriados, das 10h às 20h.
Área de Convivência - Grátis - Classificação indicativa: Livre
Agendamento de grupos e informações: 11 3871-7700

SESC POMPEIA
Rua Clélia, 93 - Lapa - São Paulo - SP
Telefone para informações: (11) 3871-7700
Para informações sobre outras programações ligue 0800-118220 ou acesse o portal http://www.sescsp.org.br/






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